Autor: Karine Liotino, CEO da Etiqueta Certa
A princípio este artigo foi publicado pela Revista Costura Perfeita VOL XIX, Nº 102 – Março/Abril 2018.
Não importa quanto as tecnologias evoluam, as fábricas se modernizem ou os modelos de negócio mudem, a modelagem será a estratégia de uma empresa que tem o vestuário como core de seus negócios.
As campanhas de branding podem ser incríveis, o tecido da melhor qualidade, as lojas receptivas e tecnológicas e o produto atraente, mas se o cliente vestir a peça e não ter aquela sensação de “caiu bem”, dificilmente levará o produto. Uma peça de roupa bem construída é o principal elemento de fidelização de um cliente a uma marca; afinal, quem não quer uma peça que veste bem? Aquela que parece que foi feita especialmente para você?
Contudo, a produção em massa, a escalabilidade e a diversidade dos corpos dos consumidores desafiam-nos quando o assunto é tabela de medidas e modelagem, por isso modelistas, estilistas e gerentes de produto precisam cada vez mais apostar na customização em massa, o que demanda o desenvolvimento de construções que sejam flexíveis e adaptáveis a diferentes tipos de corpo.
Temos um exemplo muito claro no segmento de lingerie, cujas marcas comercializam tamanhos e numerações de copas (bojos) combinadas aos vários tamanhos de costas. No Brasil, isto ainda não é muito consolidado, mas no mercado internacional já se utiliza desse artifício para fidelizar o cliente e fazer o negócio crescer com base no conceito de “sob medida”.
Outro exemplo de modelagem inovadora é o sistema Moovexx, uma patente brasileira fundamentada na construção e no design de vestuário. Depois de se observar e pesquisar que, ao sentar, nossa cintura pode expandir até 6 cm e que o cós apertado na calça jeans pode causar, além de desconforto, doenças, foi desenvolvida uma modelagem de cós adaptável e confortável, como uma calça de elástico, mas com o design que já conhecemos.
Confesso que é a calça jeans mais confortável que já vesti, pois a modelagem se adapta aos movimentos e também àqueles períodos em que estamos mais inchadas ou até quando engordamos ou emagrecemos um pouco. Vocês duvidam que eu esteja fidelizada? Agora, o Moovexx já está evoluindo para outros seguimentos, como roupas para gestantes, infantis, uniformes, sempre focando em proporcionar conforto no vestuário com uma construção mais inteligente, direcionada ao uso e às necessidades do cliente.
Para construir uma roupa “sob medida”, os profissionais ligados ao desenvolvimento do produto precisam conhecer a fundo o seu público-alvo. Sair dos manequins de prova e observar quando, onde e como o cliente usa o produto. Atentar para seus movimentos, emoções e intenções: o que incomoda, o que valoriza, o que ele quer esconder, mostrar, e como o corpo se ajusta e reage à peça.
Com as pressões de tempo para desenvolvimento e produção impostas pelo fast fashion, os lead times para criação do produto estão cada vez mais cursos, e os profissionais não têm tempo para realizar esse trabalho de observação, construção e teste. O resultado são produtos estocados, setor de vendas pressionado e queda no faturamento.
Investir em um processo que permita que os profissionais consigam desenvolver modelagem com cuidado pode resultar em um ganho exponencial de clientes novos e fiéis.
Começamos a falar aqui não apenas de inovação de produto, mas de inovação em sistemas e processos. Processos que incluam (muito) teste de uso, observação e softwares que permitam a construção de moldes precisos, realização de estudos de movimento e caimento das peças.
Construir uma modelagem assertiva é o principal programa de fidelidade que uma marca pode oferecer a seus cliente, e os investimentos no cuidado, na inteligência e na inovação nessa etapa do processo com certeza serão menores que qualquer campanha de marketing ou programa de milhagens.
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Artigo disponível em: https://pt.calameo.com/read/00464091994f8335afb4c
Fonte: Revista Costura Perfeita, VOL XIX, Nº 102 – Março/Abril 2018.
